domingo, 31 de outubro de 2010

As voltas do mundo.

Eu tive um estalo e uma intuição
quis que o mundo parasse, o tempo voltasse
só pra ter o meu desejo em minha mão.
Nessa vida nada é fácil
o que é bom não vem sem condição
e, para podar minha vontade, recebi um não.
Dias passaram, estações mudaram
hora após hora, inverno e verão.
Escondi meu desejo no baú do passado
que volta e meia eu reabria, sem razão.
Relembrar doía, mesmo assim eu insistia
nunca houve bom senso na solidão.
Por vezes achei ter me desfeito do baú
mas à noite eu despertava
enquanto sonhava, buscava o desejo
o trazia de volta para o meu travesseiro
e o abraçava, prometendo guardá-lo pra sempre
porque do que se quer demais, não se desfaz.
Errei pela teimosia?
Errei por alimentar tal fantasia?
Tive medo, me enganei por tanto tempo.
Tive medo pela irracionalidade do sentimento.
Semanas correram, os meses voaram
vivências diversas ocuparam meu ser.
Boa parte do meu vazio foi preenchido,
mas, desejo, eu nunca esqueci de você.
Eis que o mundo gira mesmo
como diz o velho autor.
Deu voltas e voltas, não sei quanto levou
em uma dessas idas e vindas
com o desejo ele me presenteou.
Aqui essa história termina e começa
no mesmo lugar, início e fim.
O velho mundo muito ainda há de girar
E do fututo, só o amanhã pode nos contar.

sábado, 23 de outubro de 2010

O QUE NÃO MATA, ENGORDA!

Desde já eu peço desculpas pelo tamanho do texto, mas ao ler a postagem do Cambota em seu blog (http://www.cambota.com.br/) sobre o cancelamento do DVD do Pedra Letícia, eu não pensava em outra coisa senão nos trechos do livro de um cara (todo mundo sabe que é HG), representante de uma das maiores bandas de rock do Brasil... Mas não me entendam mal, também não quero comparar nada a favor de ninguém, só tem 1 mês que eu sou fã de Pedra Letícia (pouco tempo, quase nada), mas queria deixar minha condolência.
Tá, tá, tá bom, eu também sei que cada banda tem sua própria história, tem suas razões que devem ser destruídas (ou não), e tem também as curvas fechadas da highway...Por isso, não estou dizendo que com PL vai acontecer o mesmo que aconteceu com outras bandas que fizeram sucesso, mas eu realmente espero que daqui alguns anos eles riam muito disso tudo! Lá vai:

“(…) esse primeiro show parece ter ido bem. Pintaram convites para apresentações em outros bares. A banda que montamos para durar uma única noite estava virando uma banda para durar algumas semanas. Já como um trio, tocávamos onde dava pra tocar. Onde não dava, também tocávamos.

O repertório ia mudando rapidamente. As colagens performáticas foram dando lugar a um material mais pessoal, saído do velho caderno (...)

Nós éramos estranhos porque tínhamos e mantínhamos um pé em cada um desses mundos: rock, MPB e atitude do-it-yourself (...)

Eu era completamente despreparado para tudo o que estava acontecendo. Não sabia como me relacionar com gravadora, imprensa (...) Só depois me dei conta de que rolava um subtexto nas relações (...) É impossível ser, ao mesmo tempo, um coração e um cardiologista.

Num mundo ideal, talvez tudo fique bem pra sempre. Mas num mundo ideal, talvez não se precise de música.

O disco que gravamos em seguida fez uma história bacana (...) Saber que nossa música estava chegando a lugares que não imaginávamos existir era estranho. Boa sensação estranha.

Nossa gravadora, à época, era fraca no ambiente pop rock (...) Fazíamos sucesso e os caras não entendiam como ou porquê (...) Os números que gerávamos eram confortáveis e a nossa maneira de ser deixava claro que não queríamos, nem poderíamos, fazer outra coisa. Impossível nos transformar em dançarinos ou rostinhos bonitos. Isso nos protegeu.

Claro que a divulgação era sempre mais leviana e grosseira do que eu gostaria que fosse. Eu me consolava pensando que, se Bach fizesse parte do cast, tratariam-no do mesma forma. Cabia ao trabalho sobreviver, ou não, às intempéries.

Não estávamos muito interessados em fórmulas (...) Pode ser irrelevante e certamente é ingênuo, mas algumas atitudes reforçavam a mistura de teimosia e irresponsabilidade que fazia com que nossas impressões digitais sobrevivessem aos apertos de mão. É natural que, ao conhecer um artista, a indústria, os críticos e os fãs se perguntem com quem ele se parece. Mas é necessário que o artista se pergunte o que é que só ele tem.

Na reunião em que mostramos o disco (...) o clima foi de decepção total. Lembro das palavras do chefão: “Esse disco é um Boeing com tanque cheio. Pode ir longe se não explodir na decolagem”. Não creio que ele acreditasse na primeira hipótese. Saí da reunião achando que havíamos gravado nosso último disco (...)

(...) caiu sobre nós o clichê de odiados-pela-crítica-amados-pelo-público. Nada disso era muito verdadeiro. Mas não havia diálogo acima dos clichês.

E sempre que a gravadora impunha, o tiro saía pela culatra (...)

A imprensa papagaia o de sempre. Nós fazemos o show de sempre. A onda era escarrar? Sinto muito, mas lá vai a minha música (...)

Sempre desconfiei dos atalhos (...) Esses atalhos seriam bons se chegar mais rápido fosse o objetivo. Há um objetivo? Porque não uma bailarina de coturno? Alguém vibrando em outras frequências, por que não? Sair desses escaninhos faz a beleza de um duo como White Stripes (...) (Não sermos literais as vezes faz nossa beleza)

Mas vida afora, noite a dentro, anjos sempre me guardaram e guiaram, me fazendo seguir viagem, me dizendo que eu era diferente do que parecia ser (...) Os DE FÉ sempre estavam do nosso lado.

Geralmente escolhiam a canção mais parecida com o que estava fazendo sucesso. Nem sempre, quase nunca, tínhamos muito a oferecer nesse sentido. Uma vez que eu só gravava o que quisesse e da maneira que quisesse, por mim, podiam mandar qualquer música para as rádios (Toca Creuzaaaaaa!)

As músicas tem uma sabedoria própria e dão um jeito de achar os ouvidos a que estão destinadas.

A grande sabedoria: saber ser pequeno. As ondas nem sempre são naturais, aquelas dependentes das marés e fases da lua. As vezes é um transatlântico que passa pela nossa jangada fazendo onda.

(...) comecei a respirar fundo, esperando um terreno mais propício pra jogar a semente. Tínhamos um novo disco pronto, mas não gravaríamos agora.

Parece que Nietzsche disse que “o que não aniquila, fortalece”. Na dúvida, fico com o que dizia a minha vó: “O que não mata, engorda”. Canelas lanhadas, mãos cheias de calos, olhos cansados e ouvidos impacientes são medalhas que trago no peito.”
Pra terminar: "Mas quando eu virar um astro, com minha guitarra e uma prancha do lado, eu quero ouvir você gritar num bar: TOCA PEDRA LETÍCIA!"

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mandinga

Diz a lenda que num dia 29, na Itália, um andarilho bateu na porta da casa de uma família pobre, pedindo um prato de comida. A família era grande e tinha pouca comida, mas eles não se importaram em dividir o seu jantar, que era gnocchi (ou nhoque). O andarilho era São Genaro. Repartiram então a refeição, cabendo sete pedacinhos a cada um. Após saborear o gnocchi, São Genaro agradeceu e partiu. Quando foram recolher os pratos, embaixo de cada um havia notas de dinheiro. Por isso, tradicionalmente, todo dia 29 é dia do gnocchi da fartura, acompanhado do ritual de colocar dinheiro embaixo do prato. Tem também que comer primeiro os sete pedacinhos em pé, para depois comer à vontade. Você acredita? Não? Nem eu.

Mas no último dia 29 eu adaptei uma receita e ficou - modéstia lá longe - uma delícia. Não sei as quantidades exatas dos ingredientes que usei, até porque massa depende de muitas coisas, e só dá pra saber se tá bom pelo toque. Mas dá pra fazer.

Ingredientes:
-
Batatas
- Farinha de Trigo
- Queijo Parmesão ralado
- Leite
- Sal

Cozinhe as batatas descascadas (cerca de 40 min.) e amasse-as ainda quentes. Reserve até esfriarem um pouco. Acrescente sal, um colher de sobremesa de leite e o queijo. Vá acrescentando farinha e amassando, até a massa começar a d
esgrudar da vasilha. Sempre amasse com as mãos enfarinhadas. Deve ficar bem leve, não igual à de pão ou pizza.



Coloque água para ferver numa panela funda, com uma colher de sal. Enquanto isso, unte uma superfície lisa com farinha de trigo e faça rolinhos com a massa. Corte em pedaços de uns 2 cm.



Quando a água estiver fervendo, jogue os pedacinhos aos poucos, com bastante cuidado (muito mesmo, porque a água espirra que é uma beleza).



Quando começar a flutuar, o pedacinho está pronto. Retire com uma escumadeira.




Coloque numa travessa, e quando todos estiverem prontos despeje um molho em cima. O que fiz foi com o que tinha na geladeira na hora: molho bolonhesa pronto, extrato de tomate, champignon e requeijão cremoso. Pra completar, pimenta calabresa e salsinha.



Nhami-nhami!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Fechando Setembro...

Mais um mês se passou... Aventuras, novidades, sufoco, decepções, superações, provas, aflições, notas, espera da chuva, enrolação, sabotagem, irritação, irritabilidade, dificuldades para dormir, sono na hora errada, muito red bull, muito medo, muitas expectativas, torcida, estudo, sonhos, estranheza, sonhos estranhos, sensações mais ainda, sensação de estar sendo puxada para trás, sensação de regressão, despersonificação, desdobramento, raiva, indiferença, rancor, vontades, planos, planilhas, contas, falta de grana, estreitando laços, afrouxando outros, fazendo nós tortos, conhecendo mais algumas pessoas, não fazendo questão de saber como vão outras, alguém chora mas você não se sensibiliza, você só sente pena de você, você se acha estranho, você lê livros macabros, você redescobre a psicanálise, você fala muito de solidão, você lê muito sobre solidão, você é muito solidão, você amplia os horizontes, mas você se sente estagnada, as vezes acha que é burra, toma o metrô sozinha, e mesmo sem ter fé, reza pra chover, joga praga em quem provocou as queimadas, enche baldes de água pela casa, dorme com a toalha molhada no rosto, tem dor de garganta, faz campanha para o deputado fictício, sente vergonha, não quer falar com as pessoas, falta paciência, tem idéias incidentes de homicídio, nenhuma de suicídio, acorda tremendo, atende o telefone temendo, tem muita ansiedade, não aprende no inglês, detesta a nova professora, antipatiza com todo o mundo, parece a tia com alterações de humor, quer chorar muito, recebe ligações da sua mãe, tem notícias de sua avó, se pergunta pra quê diabos faz psicologia, queria ter nascido rica, queria nunca ter nascido, queria ter um namorado chamado Ângelo, de 21 anos, nascido em 4 de Julho de 1989, ele ia ouví-la, ele ia topar assistir um filme com ela, ele ia tirar a bunda gorda do sofá para conversar com ela, porque ela se sente fraca, ela vai fazer um hemograma, a doutora escreve seu nome errado na requisição, ela adia o exame, ela tem infecção urinária, ela tem tensão muscular, ela abandona a dieta, as frutas apodrecem na geladeira, ela bebe refrigerante para vingar de si mesma, de sua fraqueza, de sua ambivalência, de sua alternância, ela deposita muita transferência no professor, ela se repugna com quem lhe bajula, ela corre atrás de quem é inalcansável, ela conta os dias, ela risca o calendário, ela espera que bons dias venham no mês de outubro, ela pede que são pedro pare de balançar o pinto nos arredores, e pede que desenterre a cabeça da miséria do veado que tá enterrada nessa terra excomungada que só faz a pele arder e os miolos ferverem, ela tem dó dos animais mortos na estrada, ela tosse muito com a fumaça, ela não suporta mais dormir ouvindo tiros, nem que seja do video game, ela teve bons dias longe daqui nesse mesmo mes, ela voou de avião pela primeira vez, ela sentiu a pior do de ouvido de toda a sua vida, ela acha que nunca vai se recuperar dessa dor, mais todo mês tem dor, mais ou menos, mas tem, a única coisa que ela pede além da chuva é que venham menos delas (das dores) no mês que vem... (nesse mês de Outubro)